É sabido que a comunicação é a tecnologia mais avançada do seres humanos. Porque então falar sobre que sentimos parece ser tão desafiador? Quando falamos em um setting terapêutico, quando a escuta é qualificada para interpretar o conteúdo da fala – ou do silêncio – entramos em contato com os nossos afetos, entramos em contato com a nossa história. História esta composta por ganhos e perdas, vitórias e fracassos, conquistas e descontentamentos, paixões e desprazeres, enfim… falar coloca o sujeito em posição de implicamento com sua própria história. Quando falamos entramos em contato com aquilo que em geral é indesejado.
Como lidar com esse desprazer para alcançar saúde? Afinal foi o sofrimento que nos levou até ali.
Ana O. – paciente de Freud – batizou seu processo terapêutico como “talking cure” (A cura pela fala). Veja, ela dizia que a medida que falava, algo acontecia, algo transmutava de dentro para fora como se fosse uma limpeza, ela nomeou como “limpeza pela chaminé”.
“Ouvir, para Freud, tornou-se mais do que uma arte, tornou-se um método, uma via privilegiada para o conhecimento, à qual os pacientes lhe davam acesso” (GAY, p.80, 1989).
Esperava que ao final do texto diríamos que é fácil e rápido? Que seus problemas estarão resolvidos quando começarmos a análise? Ilusões como essas te trouxeram até aqui. Mentiras suaves aliviam momentaneamente mas nos mantém na ilusão de que vivemos para ser felizes o tempo todo. Como que descobriria o prazer sem o desprazer?
A boa notícia é que o processo enquanto conjunto de meios para obter um resultado pode ser muito prazeroso, pois nessa jornada encontraremos juntos alguém que será capaz de lidar com conflitos, desenvolverá ferramentas capazes de ressignificação, esse é o encontro consigo.
Desafiador este re-encontro, é uma proposta de re-começo.
“Não diferencio os cogumelos venenosos dos sadios, os inços das ervas curativas. Como descobrir o que mata sem morrer um pouco por vez?” (Carpinejar, 2004)
Hannah Gabrielle
Psicóloga Clínica
CRP: 01/20382
(61) 9 8558 1608